Dentro do quadro da violência urbana das grandes cidades, o trânsito, sem dúvida alguma, ressalta como um dos tópicos mais violentos.
Seus efeitos negativos atingem indiscriminadamente toda a população. Quem não teve um parente ou amigo que sofreu um acidente de trânsito?
Embora inúmeras medidas de segurança sejam colocadas em prática, o índice de acidentes continua elevado. Em São Paulo, dada a sua dimensão urbana e o alto volume de veículos em circulação (1.800.000), somados a uma população aproximada de 9 milhões de pessoas, esse tipo de problema assume proporções assustadoras.
Contudo, existem outras metrópoles que comportam não apenas uma maior frota de veículos, como também contam com uma população maior, como por exemplo: Tóquio, Londres e Nova York, sendo que nessas cidades o índice de acidentes de trânsito é muito reduzido, quando comparado a São Paulo.
Por que e como acontece em São Paulo um número maior de acidentes de trânsito?
As respostas são muitas e diversas, porém, todas encontram-se subordinadas a um conceito mais amplo e determinante: o crescimento urbano desigual e diferenciado da cidade de São Paulo, produto de um desenvolvimento econômico acelerado e predatório, que transformou e transfigurou radicalmente o seu traçado urbano e que trouxe como conseqüência uma profunda alteração no modo de vida de seus habitantes, sem dar-lhes oportunidade de uma adaptação com um mínimo de conflitos.
Hoje, temos uma cidade física e socialmente desfigurada, sem raízes, despregada de tradições, pontilhada por uma colcha de retalhos de hábitos e costumes, ilhados por um mar de asfalto e concreto. Onde a comunicação humana é mediada pela tecnologia, cujos principais instrumentos de realização são: os automóveis, a televisão, o rádio, o telefone ,o computador e etc.
No interior desse quadro é que se reproduzem as relações sociais de seus habitantes e se realiza aquilo que nos interessa mais de perto: a relação entre pedestres e motoristas.
Com isso quero dizer que pedestres e motoristas não são categorias isoladas que interagem em campo próprio. São diferenciadas no particular e idênticas no geral, se entendidas como resultado de uma transformação urbana e social ocorrida de forma acentuada nos últimos 20 anos. Na verdade, a incompatibilidade entre o motorista e o pedestre e os motoristas entre si reflete apenas uma incompatibilidade maior entre o indivíduo e a cidade.
Por isso, todas as medidas de segurança e mesmo de educação de trânsito são, quando muito, paliativos de resultados duvidosos ou de alcance restrito. Se não se alterar essa relação mais ampla e complexa entre o indivíduo e a cidade, no sentido de dar ao primeiro um status de cidadania, modificando sua condição de simples morador e consumidor daquilo que lhe é socialmente imposto, esses efeitos tendem a agravar-se. Na medida em que o indivíduo se viu expulso do espaço, que era seu, em benefício do automóvel, que não é seu; por expulsão que se deu e se dá (mesmo com os calçadões) de forma agressiva e violenta.
Com isso, motoristas e pedestres,são indivíduos socialmente inseridos num contexto urbano extremamente violento que há muito lhes roubou a identidade.
Perdidos e isolados numa paisagem de códigos e sinais que os levam a todos os lugares e a lugar nenhum, motoristas e pedestres estabelecem uma relação de conflitos, cujas causas extrapolam seus âmbitos, mas os condenam a absorver seus efeitos e conseqüências, quase sempre fatais quando esse indivíduo encontra-se na condição de pedestre.
Finalizando motoristas e pedestres são ambos vitimas e réus de uma sociedade que os atrai e os repele ao mesmo tempo ,não criando um elo de respeito e compreensão entre ambos que somos nós hora motoristas ,hora pedestres ,necessitamos olhar o nosso próprio reflexo neste espelho do cotidiano .Esperando que está matéria venha trazer alguma reflexão em seu dia a dia...Um grande abraço ,Alex .
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